terça-feira, 20 de março de 2012

Poema de um conterrâneo

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
Eugénio de Andrade

quinta-feira, 1 de março de 2012

Cai-nos sempre uma lágrima

De forma mecânica, quase sempre em piloto automático, acorda-se todas as manhãs com uma disposição diferente. Nem sempre se desperta com um sorriso nos lábios, mas a maioria das vezes, até se inicia o dia sem grandes stresses e momentos desagradáveis. Claro que essa inebriante manhã se vai adensando com o despertar natural. O trabalho, o trânsito, as despesas, as tarefas... Todo esse cansaço vai-se adensando com o passar do dia e defina-se como a noite, com a vinda das estrelas.
São sobretudo os mais corajosos que ainda tentam agarrar-se à coisas boas, de forma a que o impacto das más seja menos feroz. Basta ver a disposição matinal em nosso redor. Inicia-se o dia com os bons dias, os olás, os beijinhos... Ou então com a indiferença latente rotineira. Uma mistura das duas é algo interessante e até apetecível. Desta forma, a sensação de reconhecimento é agradável e obriga ao esboço do primeiro sorriso do dia. Mas cada um sente as suas manhãs de forma diferente.
Há a vontade de mostrar um lado educado e polido, quando algumas vezes os nossos gestos são tidos como contraditórios. Há alguns momentos em que desejamos muito que o contacto seja mantido. Ou então que o outro lado tenha vontade de contactar. Há quem deseje que a sociedade note que está ali alguém, ou até que haja algum momento social, quando muitos sentem falta. Nem sempre se tem a mesma paciência. E algumas vezes, há vontade de passar despercebido. Somos todos uma contradição.
A paciência das pessoas é cada vez menor. E exemplo disso é o próprio acordar de cada um. Ou a forma como lidamos a cada manhã... Os desejos e as vontades dependem muito dos diversos momentos que cada um atravessa. Mas algo importante deve ser identificado e dito: por vezes, por muito que o nosso mundinho ande às avessas, esquecemos que do outro lado também se sente e que esse pode viver a atitude, de forma sincera. Sim, eu sei que andam por aí uns tontos...
Mais uma vez, vive-se cada dia. Não se espera muito dos outros, de forma a que a desilusão seja menor. E ainda assim, pode cair-nos uma lágrima que, com a palma da mão, se limpa o rosto. E sorri-se a cada manhã. Pede-se que este seja um dia agradável.